Talvez eu diga

Sentada, Cabeça baixa, os olhos voltados para as linhas. Às vezes sinto que poderia descrever até mesmo os contornos de sua boca como quem lesse baixinho. Suas mãos não seguravam. Apenas apoiavam, apenas mostravam sua delicadeza. Como alguém poderia ter uma beleza assim tão pura, como poderia haver tanta perfeição naquele esmalte que aos poucos mostrava a cor real de suas unhas? Havia mais doçura em seus simples gestos do que em toda a poesia de Casimiro. O universo teria percebido quem você lia por tamanha inveja da obra que se sentia olhada e tocada. Por que procurar em versos uma beleza que seria latente em apenas um fechar de olhos?
Talvez um “boa noite”, um “o quê você está lendo”, “sabe onde fica a rua Jorge de Sá?”, um “também adoro poesia”.
Talvez possa ser a única chance. Quantas outras vezes também foram as únicas chances?
A hora passava, queria apenas uma palavra sua. Um olhar, talvez um leve tocar em seus cabelos.
Nada.
Você se levantou, ajeitou a blusa, pegou suas coisas e desceu. Aproximei-me de onde você estava, busquei ao menos uma lembrança, um cheiro que lembrasse sua pureza. Fechei os olhos e cansada deixei que meu medo ficasse para trás.

Comentários

  1. D+...
    essas suas personagens, as vezes não parecem ser dessa época tamanha sutileza nelas. É como se desse um outro ritmo a realidade, algo mais sereno, compassado (como uma música de salão, que marca no ritmo o movimento do casal de dançarinos)

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