Cinco

         Era para ter sido um presente. O encontro com os próprios limites e frustrações nunca é fácil. Como de costume, comprar algo para alguém é sempre um choque das próprias vontades e nuances alheias. Estava decidido, daria um livro de poesias, provavelmente Drummond.
         Livraria de amigo é sempre mais fácil, põe a conversa em dia, reclama, conselhos, indicações, a cerveja na hora do almoço. Deixei de lado a ideia de pedir ajuda com o presente. Quase hora de ir embora, o destaque. Excelente idéia, o velho Frederico Schimidt.
          Muito boa escolha, agora só precisaria de uma boa dedicatória. Folha em branco, fazer primeiro o rascunho porque as idéias não andam claras: "dar conta dos seus sorrisos". Que bonito, será assim que vou terminar, sim é interessante pôr a data, assinar, quem sabe as razões de ser aquele livro.
        Quase atrasado, tem que ter papel de presente, não me acostumo com a ideia dessa fita, "basta o senhor puxar as duas pontas", nada simples. Mais complicações, levo? Deixo no carro? Entrego quando não tiverem tantas pessoas por perto?
         Às vezes, precisamos de poucos minutos. São gestos, insinuações, palavras que nos fazem repensar. Na minha cabeça ressoava "poema", versos que havia lido mais cedo do próprio Frederico.
         Não, não vou entregar.

Comentários

  1. Dos amores humanos, o menos egoísta, o mais puro e desinteressado é o amor da amizade.

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