Silhuetas Paulistanas

“Uma ocasião, sentados no sofá, como estávamos,
a gola de seu roupão azul abriu-se com um movimento involuntário,
deixando ver o contorno nascente de um seio branco e puro,
que o meu olhar ávido devorou com ardente voluptuosidade.
Acompanhando a direção desse olhar, ela enrubesceu como
uma menina e fechou o roupão;
mas doce e brandamente,
sem nenhuma afetação pretensiosa”.
(ALENCAR, de José. Lucíola)
D.A.Borges
Com curvas que se mesclam a rigidez de tuas calçadas, levas a caminhos de um corpo antes não explorado. Tua grandeza, fruto inóspito de desejos não esclarecidos, esconde, capta, traduz, afeta. Procuro em teus cruzamentos e esquinas o labirinto desvendado por teus desbravadores. Nomes, figuras desconhecidas, histórias talhadas em letras brancas sobre o teu verde, placas sensíveis a olhos atentos, ruborizadas enganam os pincéis e os traços do artista.
Como explorariam outros dedos? Como sentiriam tua respiração? Como sentiriam as pontas, pontes clementes, o elo entre a negação irracional do desejo e o breve tocar dos teus lábios, mesmo que diante da negação. Tens no nome o poder de ser pura, mas carregas em si o peso de não se entregares ao outro, fazes do homem objeto de adoração, carregas em tuas entranhas a clareza cotidiana.
Assim te apresentas, dama esquecida com trajes difíceis e vontades próprias, e em toques transformas tudo em luz. Não negastes em nenhum momento, mas também não assumistes, estavas lá. Teus medos são reflexos de teus muros, teus cantos calados diante das adorações pelo silêncio. Pedistes, e então te responderam negando a vontade da escolha.
Engana-se quem procura em teus mínimos gestos aberturas para desejos, escondes tuas vontades no fazer nascer do outro, o nutrir de sensações. O olhar para baixo quando te acariciam as galerias, obras inacabadas não por imperfeição, mas por desígnios que incompreendem a consciência humana. Fazes-te arte, mulher, beleza, sensualidade e excitação. Adoração de um mundo perfeito, o encontro entre a métrica e as curvas, os cruzamentos e viadutos, carícias e pudor.

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